Após um ano de crescimento de 3,1% na indústria brasileira em 2024, com desaceleração no final do ano, a previsão para 2025 apresenta desafios e oportunidades para Mato Grosso do Sul, um estado onde a indústria é altamente conectada ao agronegócio e ao mercado externo. Com um PIB industrial que alcançou R$ 39,7 bilhões no último ano – 9,3% maior que o de 2023 – e projeções de R$ 43,1 bilhões para 2025, o setor segue como um dos pilares da economia estadual.
De acordo com Eugênio Pavão, economista especializado no setor industrial, o principal obstáculo em 2025 será a alta da Selic, que encarece o crédito e tende a adiar ou reduzir investimentos industriais. “A indústria brasileira e a de MS será impactada pela alta da Selic, já que vai encarecer o crédito, financiamento e adiar/reduzir o investimento”, afirma à reportagem do O Estado.
No caso de Mato Grosso do Sul, Pavão explica que o impacto será mais sentido em setores que produzem e vendem internamente, enquanto segmentos exportadores, como o sucroenergético e o frigorífico, tendem a manter ou até ampliar sua produção. A agroindústria, em particular, está entre as mais promissoras. “As plantas industriais instaladas em MS aproveitam a capacidade produtiva da terra, como a cana-de-açúcar para açúcar e etanol, soja esmagada em farelos e óleo, e carne in natura ou congelada”, destaca o economista.
Dados do Panorama Econômico da Fiems (Federação das Indústrias de MS) reforçam o peso da agroindústria no Estado. Mato Grosso do Sul é o maior exportador de celulose do Brasil, com uma participação de 27% da receita nacional, gerando US$ 2,37 bilhões em 2024. O setor frigorífico também se destaca, empregando 37,8 mil pessoas e exportando carnes bovinas, suínas e de aves para mais de 70 países, com receita de US$ 1,6 bilhão no último ano.
Além disso, o Estado é o 2º maior produtor de etanol do país, com uma produção que atingiu 2,9 bilhões de litros em 2024 e deve crescer para 3 bilhões de litros em 2025. A indústria sucroenergética é responsável por 17% do PIB industrial estadual e segue expandindo suas operações.
Outros setores importantes incluem o processamento de soja, no qual MS é o 5º maior exportador nacional, com US$ 765 milhões em derivados como farelos e óleo. Municípios como Dourados, Campo Grande e Três Lagoas concentram parte significativa dessa produção.
Empregos e investimentos
Mesmo com a alta dos juros, Mato Grosso do Sul mantém um cronograma robusto de investimentos industriais. Entre 2024 e 2030, são esperados mais de R$ 89,9 bilhões em novos projetos, que deverão gerar 11.515 empregos diretos. Entre os destaques estão a construção de fábricas de celulose em Inocência, Água Clara e Três Lagoas, que juntas somam R$ 75 bilhões em investimentos. Além disso, a ampliação da capacidade de abate de suínos em Dourados, com aporte de R$ 1,2 bilhão, e a instalação de uma nova planta de processamento de soja em Naviraí, com investimento de R$ 1,4 bilhão, reforçam a dinâmica de crescimento do estado.
No mercado de trabalho, a previsão é que o Estado encerre 2025 com cerca de 165.300 empregos formais na indústria, um aumento de 3% em relação a 2024. Além disso, a massa salarial do setor deve alcançar R$ 6,9 bilhões, 8% maior do que no ano anterior, consolidando a indústria como uma importante geradora de renda para MS.
Desafios internacionais
O cenário global também traz preocupações para Mato Grosso do Sul. Pavão alerta para o risco de taxações sobre produtos industriais exportados para os Estados Unidos, devido à nova política protecionista do governo Trump. “O risco seria uma taxação sobre produtos industriais vendidos aos EUA devido à nova política protecionista do Trump”, afirma.
Por outro lado, o economista destaca que o Estado pode se beneficiar da guerra comercial global, substituindo exportações americanas em mercados como a China. Em 2024, Mato Grosso do Sul exportou produtos industriais para mais de 150 países, incluindo importantes destinos como Holanda, Indonésia, Emirados Árabes e Alemanha.
Perspectivas para setores estratégicos
Com um perfil predominantemente agroindustrial, Mato Grosso do Sul não sente tanto o impacto da desaceleração em setores mais avançados, como os da chamada Indústria 4.0. “MS não será afetado em produtos da indústria 3.0 e 4.0, mas sim na questão dos grãos, minérios e proteína bovina”, pontua Pavão.
Entre os setores com maior potencial de crescimento está o de celulose, que deverá consolidar ainda mais a liderança nacional com o início das operações de novas fábricas. O setor sucroenergético também apresenta perspectivas promissoras, com a expansão da produção de etanol sendo vista como uma oportunidade de crescimento sustentável, em linha com a demanda crescente por biocombustíveis. Já o segmento de carnes deve ganhar força com a ampliação da capacidade de abate e a diversificação de mercados, reforçando a posição estratégica do setor frigorífico no estado.
Indústria como motor da economia estadual
A força da indústria sul-mato-grossense é evidente nos números: o Estado conta com mais de 7,9 mil empresas industriais ativas, que geraram R$ 100 bilhões em valor de produção anual em 2024. O setor representa 24% do emprego formal no estado, com destaque para cidades como Três Lagoas, Dourados e Campo Grande.
Além disso, em praticamente metade dos municípios de Mato Grosso do Sul, a indústria é o principal empregador. “Caso a desaceleração afete a oferta, isso seria um problema, mas nada indica que parceiros comerciais reduzam as compras”, analisa Pavão, destacando a estabilidade da demanda global pelos produtos exportados pelo Estado.