O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou nesta quinta-feira (7) que observa que há uma “manutenção da tendência de declínio da inflação” nos próximos meses, mas indicou que, diante do cenário político e econômico “desafiador”, não há espaço para uma flexibilização da taxa básica de juros – atualmente em 14,25% ao ano, o maior patamar em quase 10 anos.
“O balanço de risco para inflação permanece desafiador. Assim, entendo que os riscos inerentes ao comportamento das expectativas das taxas de inflação observadas até recentemente, combinados com a presença de mecanismos de indexação na economia brasileira e de incertezas quanto ao processo de recuperação de resultados fiscais e de sua composição não nos permite trabalhar com a hipótese de flexibilização das condições monetárias”, disse Tombini, durante evento do Banco Itaú, em São Paulo, sinalizando que o BC não trabalha com a hipótese de redução da Selic.
“De qualquer maneira, reitero que o Banco Central não se furtará, caso novos movimentos altere o balanço de risco da inflação, em adotar as medidas necessárias para assegurar o cumprimento dos objetivos do regime de metas”, acrescentou.
Meta de inflação
Tombini tem repetido que o BC buscará "circunscrever" o IPCA, a inflação oficial, aos limites estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 2016. Ou seja, trazer a taxa para até 6,5% e, também, fazer convergir a inflação para a meta de 4,5%, em 2017. Entretanto, o mercado financeiro não acredita que isso será possível. Para 2016, a expectativa do mercado para o IPCA, a inflação oficial do país, subiu de 7,57% para 7,59%. Com isso, permanece acima do teto de 6,5% do sistema de metas e bem distante do objetivo central de 4,5% fixado para este ano.
Para Tombini, entre os fatores que contribuirão para a desaceleração da inflação nos próximos meses estão: maior convergência entre preços administrados e preços livres, menor impacto do câmbio sobre os preços domésticos, demanda mais reprimida e ambiente externo com tendência de menor crescimento.
“Após inflação elevada em janeiro, o mês de fevereiro representou o início do declínio da inflação acumulada em 12 meses, corroborado recentemente pela variação IPCA 15 do mês de março”, disse.
Instabilidade política
“O país atravessa um momento desafiador, caracterizado por uma combinação atípica de instabilidade política e desafios econômicos, que tem minado a confiança de empresários e consumidores e, por conseguinte, dificultado a recuperação da economia”, disse o presidente do BC, citando ainda a maior complexidade da economia internacional.
“Essa combinação de riscos externos e internos é transitória, por mais que já perdure”, destacou Tombini, destacando a importância de se promover ajustes, sobretudo na área fiscal (ajuste das contas públicas).
Ajuste fiscal
Segundo Tombini, o ajuste fiscal é crucial para garantira a retomada do crescimento econômico. “É imprescindível porque não há caminho alternativo para a recuperação da confiança das famílias e dos empresários e para a retomada do crescimento econômico sustentável”, disse.
“Por mais intensos e bem sucedidos que possam ser o ajuste do setor externo e o ajuste monetário, esses não substituem o fiscal, quer demanda medidas de curto, médio e longo prazo para garantir uma trajetória de resultados primários e levem à estabilização e a posterior diminuição do endividamento público em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) da economia brasileira”, acrescentou.
“Um resultado fiscal consistente além de aumentar a confiança dos agentes na recuperação econômica contribui para a ancoragem das expectativas de inflação”, completou.
Atuação no câmbio
Sobre as intervenções do Banco Central no câmbio, Tombini destacou que o BC tem atuado por meio de swaps e leilões de linha e que tem "acompanhado os desenvolvimentos nesse mercado e agido, sempre que necessário, para manter sua funcionalidade sem jamais afrontar o regime de câmbio flutuante".
Fonte: G1