Em meio à pressão política pela proximidade das eleições, a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que começou ontem, é considerada por analistas um divisor de águas na economia: o colegiado poderá chancelar que a inflação ficará mais tempo ao redor do teto da meta – 6,5% – ou tornar ainda mais lento o cambaleante crescimento econômico, segundo economistas ouvidos pelo GLOBO. Na pesquisa que o BC faz semanalmente, as apostas são que o Copom interromperá amanhã o maior ciclo de alta dos juros da história no patamar de 11% ao ano.
Na visão do economista Luiz Gonzaga Belluzo, um dos gurus da equipe econômica, o país precisa crescer e é necessário aproveitar esse momento em que a inflação está se comportando melhor. Atualmente, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está em 6,28% no acumulado nos últimos 12 meses, mas dá sinais de queda.
Pelas recentes manifestações do Banco Central, a impressão é que eles (os integrantes do Copom) serão moderados. Se houver alta, será pequena, de 0,25 ponto percentual — prevê.
Segundo ele, é preciso levar em conta o fraco desempenho econômico. O economista Luiz Carlos Mendonça de Barros concorda. Em sua opinião, elevar os juros agora não faz o menor sentido, pois os custos serão enormes e os resultados, pífios. Desde abril do ano passado, o BC aperta a política de juros para combater a inflação. Nunca o Copom subiu a taxa básica (Selic) por tanto tempo.
Para Mendonça de Barros, a política de juros isoladamente não trará a inflação para perto do centro da meta, mesmo que a taxa continue a subir. Ele acrescenta que, apenas com um novo governo e com uma política econômica mais abrangente, inclusive administrando um choque de preços que estão represados, o IPCA começará a cair.
— A função mais importante da política de juros do BC, em situações como a de hoje, em que existem pressões inflacionárias fortes por desequilíbrio de oferta e demanda, principalmente em serviços e no mercado de trabalho, é a de regular a demanda interna, desacelerando o consumo. Neste aspecto, os resultados estão à vista de todos, com desaceleração das vendas no varejo — disse ele.
Para o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, o cenário mais provável é a queda de juros. E, se isso ocorresse, seria uma irresponsabilidade.
— O Copom não tem compromisso com a meta de inflação e é autônomo até um certo limite. As ações do Copom são combinadas previamente com o Palácio do Planalto — afirmou Maílson. Ele lembrou ainda que um aumento na Selic, hoje, só teria influência nos preços em 2015.
Fonte: O Globo