Ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro admitiu bastidores de reuniões ministeriais em que Bolsonaro também teria defendido que reforma administrativa ficasse apenas para o segundo mandato
Pré-candidato à presidência da República pelo Podemos, Sérgio Moro afirmou em entrevista ao “Pânico na Rádio” nesta segunda-feira (14) que o presidente Jair Bolsonaro (PL) nunca buscou uma reforma tributária.
“Em 2019, o presidente, em uma reunião ministerial, disse – e tem todos os ministros como testemunhas – que reforma administrativa era coisa de segundo mandato. Reforma tributária o presidente nunca foi a favor. Na campanha é uma coisa, agora você tem que ver como é o comportamento no governo”, disse o ex-ministro, em resposta ao economista Samy Dana.
Ainda segundo Moro, a estratégia de Bolsonaro, a partir disso, foi fazer um “jogo de cena” para “transferir a responsabilidade para os outros”. “A culpa é do governador, a culpa é do Congresso…”, afirmou Moro, questionando a liderança de Bolsonaro.
Relacionamento com o Congresso
Na mesma entrevista, Sérgio Moro também disse que, caso eleito, por não ser Bolsonaro nem Lula, “não tem rabo preso para conversar com o Congresso”.
“Eu sou uma pessoa de diálogo sem me tornar um refém no começo dessa conversa. Eu tenho um passado de integridade, honestidade e combate à corrupção. Muito diferente de Lula e de Bolsonaro”, afirmou.
O ex-ministro da Justiça também defendeu que o Brasil retome “uma agenda de reformas que são modernizantes no país” e que é preciso fazer, em 2023, “a reforma tributária e a reforma administrativa […] voltada ao corte de privilégios e no serviço público de qualidade”.
Justiça
Na entrevista, Sérgio Moro também criticou o Supremo Tribunal Federal. “Quando ele [o STF] vem e anula essas condenações [da Lava Jato] por motivos formais, sem entrar no mérito, que ninguém entende os motivos; […] ele merece críticas, [pois está] mandando uma mensagem para a sociedade que compensa ser desonesto”, afirmou o pré-candidato pelo Podemos.
Reconhecendo ter bons ministros na corte, o ex-juiz também avaliou, por outro lado, que Bolsonaro “é parte disso” e admitiu, outra vez, que Bolsonaro nunca se empenhou pela execução da pena em segunda instância, medida que considera “essencial no combate à criminalidade”.
“Eu sempre fui um defensor [da execução de pena em segunda instância], eu fui no Supremo defender lá […], [mas] quando o Supremo reviu aquela decisão, dentro do Planalto, quando todos aqueles criminosos foram colocados em liberdade, quando o Lula foi colocado em liberdade, o [Palácio do] Planalto comemorou, porque eles achavam que aquilo era bom do ponto de vista eleitoral para eles. O presidente – isso é fato – mandou o filho apagar um tweet dizendo que era ‘importante a execução em segunda instância’. […] Eu fui no Congresso defender a aprovação de uma PEC e de uma lei para colocar a execução em segunda instância no lugar e um ministro ligado ao presidente me disse que Bolsonaro ‘não quer que eu meta com essa pauta’. Eu pensei: ‘é brincadeira, né?’. […] Meu compromisso é execução em segunda instância, acabar com foro privilegiado para todo mundo, inclusive para presidente da República, e se o presidente da República manda uma [Proposta de] Emenda Constitucional dizendo que acaba com o foro privilegiado para todo mundo, inclusive para ele, eu duvido que o Congresso não aprove”, disse.
Fonte: Boletim da Liberdade