Câmbio impactou pouco na competitividade da indústria




22/11/2013 - 00:00

A recente desvalorização do real não foi suficiente para ajudar na competitividade da indústria e do País. Segundo dados divulgados ontem pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), entre julho e setembro 82,4% da demanda doméstica foi formada por produtos importados, restando apenas 17,6% para os itens nacionais.
De acordo com Roberto Giannetti da Fonseca, diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp (Derex), em entrevista ao DCI, o Coeficiente de Importação tem sofrido um crescimento contínuo desde 2009. "Apesar de ter havido uma desvalorização nominal do câmbio o efeito líquido dessa desvalorização é mais inferior do que parece porque as outras moedas também se desvalorizaram", disse citando países como Japão, China, África do Sul e Índia. Segundo o especialista, esses, ou são concorrentes do Brasil ou exportam para o País.
Para o diretor da Fiesp, o dólar deveria estar em pelo menos R$ 2,70. "Isso extirpando todos os efeitos de mercado futuro, de especulação cambial, se fosse só o mercado cambial à vista, o dólar já estaria nesse patamar, o que não deixa são os especuladores internacionais e os swaps cambiais que o Banco Central faz todos os dias".
A perda de competitividade da indústria nacional, segundo o especialista, ocorre por diversos fatores como a logística e a cumulatividade tributária. "O custo desses fatores são inerentes à perda de competitividade, o câmbio não tem sido favorável, está sobrevalorizado há bastante tempo e de forma aguda".
De cada quatro produtos consumidos no Brasil um é importado. O especialista afirmou que o mais grave não é em relação ao nível global da economia brasileira mas a proporção do crescimento do consumo. "O consumo incremental dos últimos anos que tem sido bastante vigoroso e de 70% a 80% é sido capturado pelas importações e não pela indústria, isso mostra uma situação de agonia gradual", opinou.
Os dados do Coeficiente de Exportação Importação (CEI) indicaram que o desempenho do setor industrial no terceiro trimestre foi acompanhado por um aumento de 2,6% do quantum exportado, sendo que as importações cresceram em um ritmo bastante superior, 15,1%.
O movimento de intensificação da demanda doméstica de produtos industriais se manteve no 3º trimestre, embora tenha apresentado leve desaceleração se comparada à alta dos três meses anteriores (4,9%). Em bases anuais, o consumo aparente cresceu 4,1% no período.
Giannetti destacou que um número que causa espanto é o déficit de manufaturados que está em US$ 100 bilhões, sendo que em 2006 esse número era zero. "Temos uma economia sustentada pelas commodities agrícolas e minerais, que podem sofrer muitos efeitos sazonais, estamos nos tornando vulneráveis às volatilidades da economia internacional."

Competitividade

A perda da competitividade da indústria brasileira ficou clara em mais um dado divulgado ontem. O Brasil atingiu a posição 37 no Índice Fiesp de Competitividade das Nações 2012, ficando no mesmo quadrante de países com baixa competitividade como México, Tailândia, Índia.
"O Brasil melhorou uma posição e isso é bom, mas numa relação de 43 países, ficar na 37ª posição é um problema muito grande porque mesmo com as melhorias que tivemos ainda há países que estão evoluindo numa velocidade maior que a nossa", afirmou José Ricardo Roriz Coelho, diretor titular do Departamento de Competitividade e Tecnologia, responsável pela elaboração do indicador anual.
O indicador também comparou a competitividade brasileira com um grupo de países responsáveis por 76% da pauta de importações brasileira de bens industrializados. Fazem parte desse time China, Estados Unidos, Alemanha, Argentina, Coreia do Sul, Japão, Itália, México, França, Índia, Reino Unido, Espanha, Chile, Suíça e Canadá.
"É importante avaliarmos o que está acontecendo com esses países porque são eles que exportam produtos aqui para o Brasil", completou Roriz. A Coreia do Sul, origem de 4,7% das importações brasileiras em 2012, subiu 11 posições no ranking entre 2000 e 2012, enquanto o Brasil avançou apenas três colocações durante o mesmo período.
Responsável por 17,3% das importações do Brasil, a China avançou oito posições no ranking em 12 anos. Tanto a China quanto a Coreia do Sul priorizaram investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e estimularam o aumento de patentes entre 2000 e 2012, segundo estudo da Fiesp.

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