Por Josceli Pereira*
Todos concordamos em um ponto sobre como devemos nos comportar na crise: este é o momento certo de rever alguns conceitos em uso.
Esta regra vale para os dois lados da balança. De um lado temos o governo colocando suas garras afiadas para arrecadar mais e cortar gastos (em menor esforço) para equilibrar seu orçamento público. Não espere comportamento diferente do setor público. Ele não está nem um pouco preocupado em cortar gastos para aliviar a carga tributária. Quer manter o assistencialismo e os investimentos necessários para tentar permanecer com seu grupo no poder. Esta forma de agir não depende de ideologia partidária e não está relacionado a este ou aquele partido. É cultural esta forma de pensar. Não se espera nessa geração alguma mudança de conceito sobre política e poder.
Neste mundo globalizado precisamos entender que a crise já não mais fica restrita aos limites geográficos do Brasil. O noticiário nos dá conta da frágil conjuntura econômica mundial — desaceleração da economia da China e expectativa de aumento das taxas de juros nos Estados Unidos — vem se deteriorando e fazendo crescer o déficit em conta corrente no Brasil.
Por outro lado estão o empresário e o consumidor, que passam a ser os alvos dessas constantes majorações da carga tributária. O empresário sempre que possível repassa para o consumidor o custo do aumento do imposto.
Por sua vez, o consumidor começa a diminuir seu poder de compra e com isso vai também deixando de movimentar a economia, criando assim um agravamento da crise. Uma verdadeira roda em movimento que tem sua velocidade de rotação ditada pela economia do país.
Nesse momento é hora de ser criativo e desenhar opções de gerenciamento capaz de permitir a sobrevida da empresa para atravessar este período de "vacas magras". Para os empreendedores, a melhor recomendação é que se preparem para tempos difíceis. Não estou falando de desespero e desânimo, pois ao contrário do que muita gente imagina, momentos de crise podem ser épocas de grandes oportunidades de negócios.
É comum a queda nas vendas, pois existe uma retração natural imposta pela crise. É instantâneo a autodefesa das pessoas em conter o ritmo de consumo para prevenir possíveis gargalos financeiros.
Outra situação importante é diminuir o grau de endividamento, pois com as medidas adotadas pelo governo, as taxas de juros são elevadas e isso pode resultar em uma dificuldade para você suportar com a retração do faturamento.
Avaliar seus grupos de produtos. Talvez esteja aí pontos que poderão ofertar uma mudança para que sua empresa possa evitar encargos financeiros e melhorar a rotatividade dos mesmos. Sabemos que uma parcela dos produtos e serviços que compõe a lista da empresa tem giro não condizente com a realidade. Produtos na prateleira não geram lucro. A função é localizar quais são e criar alternativas de fazer girar e gerar lucros.
Manter um olho na publicidade. Quem não é visto não é lembrado. Precisa mostrar para o consumidor que você tem aquilo que ele procura e por um preço competitivo. A propaganda é a alma do negócio. Invista em divulgações que alcancem seus clientes em potenciais.
Saia um pouco de trás do balcão e vá se inteirar de como os seus pares estão agindo para também enfrentar a crise. Ideias salutares podem ser copiadas e até mesmo melhoradas. Não tente ser o dono da verdade. Existe um mundo inteiro ao seu redor que respira e vive a mesma situação que você. Aprenda até mesmo com as medidas que não deram certas, vale a pena aprender com os erros dos outros para não precisar cometê-los também. Convoque seus colaboradores a sugerirem soluções. Pode ser que determinadas ideias estejam bem mais próximas do que você imagina.
Faça uma escala de prioridades dos gastos e veja onde poderá fazer os cortes para equilibrar suas contas. Lembre-se que a lucratividade deve ser observada. Não superestime seu lucro levando apenas o momento de economia aquecida. Em tempos de crise você precisa entender que o seu lucro não pode ser idêntico, sob pena de criar um cenário que poderá trazer sérias consequências quando a economia aquecer novamente.
Existe uma máxima sobre empreendedorismo que diz o seguinte “O primeiro negócio de qualquer negócio é permanecer no negócio”.
Ao consumidor resta o conceito de colocar em prática as famosas citações como: reciclar, reduzir e reutilizar. Palavras tão usadas no jargão da sustentabilidade devem ser adotadas no cotidiano das finanças pessoais. Em tempos difíceis é importante saber para onde está caminhando o orçamento, com planejamento e controle dos gastos, que vão desde o cafezinho na lanchonete da esquina até a prestação do carro ou daquele investimento em objetos de valores adquiridos sem muito cuidado.
No fim do mês reavalie as despesas e tente classificá-las em: indispensáveis ou urgentes, as quais devem ser mantidas e utilizadas com moderação; desejáveis, que poderão ser reduzidas drasticamente em momentos mais turbulentos; e supérfluas, passíveis de corte em sua totalidade.
Além de ficar esperto com as armadilhas do cartão de crédito e cheques especiais.
* Josceli Pereira é Fiscal Tributário Estadual, formado em Administração/UFMS - Especialista em Perícia e Investigação Contábil-Financeira Empresarial/INPC-UCDB e em Desenvolvimento Regional e Competitividade/UFMS.
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