O Comitê de Política Monetária (Copom) avaliou nesta quinta-feira (10), por meio da ata de sua última reunião, que o elevado patamar da inflação corrente está relacionado com a alta de tributos no começo deste ano e que o impacto da recessão (hiato do produto mais "desinflacionário") nos preços será maior do que o estimado anteriormente.
No documento, a instituição também retirou a avaliação, que constava em atas anteriores, de que seriam necessários "determinação e perseverança" para impedir a transmissão de inflação corrente, que está em níveis elevados, para prazos mais longos.
Com isso, adotou, na ata do Copom, um tom mais suave na sinalização de sua estratégia de política monetária, um indício de que a taxa Selic pode ser reduzida ainda neste ano - conforme aposta de parte dos analistas do mercado financeiro. Na semana passada, a taxa básica da economia permaneceu estável pela quinta vez seguida em 14,25% ao ano.
Para analista, BC cortará juro em 2016
Para o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, a ata do Copom sinaliza que o próximo passo do BC será um ciclo de redução da taxa Selic.
"Acreditamos que o processo de desinflação corrente começou em fevereiro devendo se intensificar e surpreender o mercado ao longo do primeiro semestre de forma a corroborar com a estratégia do BCB e possibilitar o início da queda do juros na reunião de outubro", avaliou ele, por meio de relatório.
Copom dividido
Na reunião do Copom da semana passada, a opção por manter os juros estáveis não foi unânime. Dois diretores do Banco Central optaram por um aumento de 0,5 ponto percentual, para 14,75% ao ano, mas foram voto vencido.
"Parte de seus membros argumentou que seria oportuno ajustar, de imediato, as condições monetárias, de modo a reduzir os riscos de não cumprimento dos objetivos do regime de metas para a inflação, reforçar o processo de ancoragem das expectativas inflacionárias e contribuir para deter a alta das projeções de inflação", informou a instituição.
Entretanto, em seguida, acrescentou que a maioria dos membros do Copom considerou que as incertezas domésticas e, principalmente, externas, justificam continuar monitorando a evolução do cenário macroeconômico para, então, definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária.
"Para estes membros, faz-se necessário continuar acompanhando o desenvolvimento nos ambientes doméstico e externo e seus impactos sobre o balanço de riscos para a inflação, o que, combinado com os ajustes já implementados na política monetária, pode fortalecer o cenário de convergência da inflação para a meta de 4,5%, em 2017", infrormou o Banco Central.
Incertezas e objetivo inflacionário
O Copom avaliou ainda que há incertezas associadas ao balanço de riscos, principalmente, quanto ao processo de recuperação dos resultados fiscais (obtenção de superávits primários pelo setor público) e sua composição, e que o "processo de realinhamento de preços relativos mostrou-se mais demorado e mais intenso que o previsto".
"Adicionalmente, que remanescem incertezas em relação ao comportamento da economia mundial. Nesse contexto, o Comitê reitera que adotará as medidas necessárias de forma a assegurar o cumprimento dos objetivos do regime de metas, ou seja, circunscrever a inflação aos limites estabelecidos pelo CMN, em 2016, e fazer convergir a inflação para a meta de 4,5%, em 2017", informou a autoridade monetária.
Reafirmou ainda que, embora reconheça que outras ações de política macroeconômica podem influenciar a trajetória dos preços, a visão de que "cabe especificamente à política monetária [definição dos juros para conter a inflação] manter-se vigilante, para garantir que pressões detectadas em horizontes mais curtos não se propaguem para horizontes mais longos".
O BC informou ainda que decidiu manter os juros básicos da economia estáveis neste mês mesmo com o aumento de suas previsões de inflação tanto no cenário de referência (juros e câmbio estáveis) quando no de mercado - considerando as previsões dos economistas dos bancos para estas variáveis. Segundo a instituição, as suas estimativas de inflação subiram para 2016 e 2017 e estão acima da meta central de inflação de 4,5%.
Nível de atividade
O Copom avaliou ainda que há indicações de que o ritmo de expansão da atividade doméstica neste ano inferior ao previsto anteriormente. No ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) teve contração de 3,8% e, para 2016, a estimativa do mercado financeiro é de uma queda de 3,5%.
"Esse processo [nível de atividade fraco] está sendo especialmente intensificado pelas incertezas oriundas do efeito de eventos não econômicos. Em particular, o investimento tem-se retraído, influenciado, principalmente, pela ocorrência desses eventos, e o consumo privado também se contrai, em linha com os dados de crédito, emprego e renda", avaliou.
Entretanto, para o Comitê, depois de um "período necessário de ajustes, que se tem mostrado mais intenso e mais longo que o antecipado", à medida que a confiança de firmas e famílias se fortaleça, o ritmo de atividade tende a se intensificar.
Fonte: G1