Com aval do Palácio, policiais federais pressionam relator da reforma administrativa por volta da aposentadoria integral
Categoria quer volta de privilégio que mantém pensões atreladas aos salários da ativa, retirado na mudança da Previdência em 2019
Policiais federais querem aproveitar a reforma administrativa para reverter mudanças nas regras de aposentadoria e pensão da categoria introduzidas na reforma da Previdência, aprovada em 2019.
Com aval do Palácio do Planalto, que cultiva uma base eleitoral para o presidente Jair Bolsonaro em categorias policiais e militares, representantes dos funcionários da Polícia Federal pressionam parlamentares para incluir na reforma administrativa o restabelecimento da integralidade da remuneração na aposentadoria.
A integralidade significa, na prática, manter como inativo a mesma remuneração do último posto na ativa e ainda ter os mesmos reajustes concedidos aos profissionais em atividade.
Ministro participa das negociações
A pressão dos policiais tem apoio do ministro da Justiça, Anderson Torres, que é delegado e está diretamente envolvido nas negociações, segundo fontes.
Em seu perfil em uma rede social, Torres afirmou que o dia de hoje era "importante" e que estava acompanhando os desdobramentos da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 32, que trava da reforma administrativa, "em busca da merecida valorização das forças de segurança".
A expectativa é que a comissão especial da Câmara vote o texto da reforma nesta quarta-feira ou quinta-feira. O relator da matéria, deputado Arthur Maia (DEM-BA) prometeu fazer novos ajustes no seu parecer, depois de várias modificações em relação à proposta enviada pelo Executivo.
Integrantes das polícias Federal, Rodoviária Federal e Civil do Distrito Federal pressionam o relator para incluir no novo parecer a volta da paridade e da integralidade. Esses benefícios deixaram de existir para policiais que ingressaram na carreira após a reforma da Previdência, que entrou em vigor em 12 de novembro de 2019.
Um dos argumentos é o de que policiais militares e bombeiros, servidores estaduais, foram incluídos na reforma da Previdência das Forças Armadas e mantiveram benefícios perdidos pelos agentes federais.
Contrato temporário
O relator já tinha assegurado na última versão do relatório foro privilegiado para diretor-geral da Polícia Federal.
Além de ajustes de redação, Maia fará outras modificações para facilitar a votação da matéria na comissão. Entre elas, deverá reduzir de dez anos para seis anos o prazo máximo dos contratos temporários no serviço público
Também são avaliadas a previsão de “pré-seleção” para a contratação para cargos comissionados e a possibilidade de desligamento do servidor que não tiver um bom desempenho já durante o estágio probatório, e não apenas ao final do período.
Maia já tinha feito várias concessões no texto da reforma, como por exemplo, estabilidade para todos os servidores e não apenas para as carreiras típicas de Estado.
Ele também manteve privilégios pra os atuais servidores, como promoção automática por tempo de serviço, licença-prêmio e férias superiores a 30 dias. Somente os novos não terão direito a essas regalias.
Juízes e MP de fora da reforma
A elite do Judiciário e do Ministério Público, como juízes, promotores e desembargadores ficaram de fora da reforma administrativa.
O parecer recebeu críticas dos partidos da base do governo e da oposição na terça-feira, durante as discussões na comissão especial. Foram quase 11 horas de debate, com a inscrição de 63 parlamentares, sendo 53 para discursar contra e dez, a favor. Restaram sete inscritos que devem se manifestar nesta quarta-feira.
Como estão previstos vários destaques para modificar a proposta, a tendência é que a votação do texto final somente ocorra na quinta-feira.