O déficit nas rendas, dentro das contas externas brasileiras, sofreu um aumento de janeiro a outubro deste ano em relação a 2012 passando de US$ 25,8 bilhões para US$ 28,8 bilhões. O déficit de investimentos também aumentou, passando de US$ 26,3 bilhões para US$ 29,2 bilhões.
Dentro dos investimentos, os estrangeiros diretos passaram de US$ 14,1 bilhões para US$ 15,1 bilhões. Os lucros e dividendos saíram de US$ 12,1 bilhões para US$ 13 bilhões. Os juros de empréstimos intercompanhias se mantiveram basicamente estáveis em US$ 2 bilhões.
O déficit do setor de serviços também aumentou, passando de US$ 33,4 bilhões para US$ 39,7 bilhões. Especialistas consultados pelo DCI apontaram que o Brasil, tradicionalmente, tem um conta de serviços negativa mas o que realmente preocupa é o déficit da balança comercial, que estava em US$ 224 milhões até outubro.
Segundo o professor da Universidade Anhembi Morumbi, Marcello Gonella, "o balanço de serviços no Brasil sempre foi deficitário, primeiro pela questão de remessa de lucros, o Brasil tem muitas multinacionais aqui que remetem os lucros para fora, e remessas para o pagamento de dívidas". Ele também citou transportes, seguros e turismo.
Para o professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), José Roberto Araújo Cunha Junior, "é normal que as economias em desenvolvimento tenham um superávit na balança comercial e déficit na balança de serviços, eu não considero um déficit [de serviços] tão grande, me parece natural, tendo em vista que a economia cresceu", disse.
Em outubro, segundo dados divulgados na última sexta-feira pelo Banco Central, o déficit de serviços foi de US$ 4,9 bilhões em outubro, ante US$ 4 bilhões no mesmo mês de 2012. A despesa líquida de viagens internacionais somou US$ 1,8 bilhão, 15,9% acima do observado em outubro de 2012, apresentando aumento de 10,9% nos gastos de turistas brasileiros no exterior e redução de 3,1% nos gastos de turistas estrangeiros no País.
O balanço de pagamentos apresentou déficit de US$ 4,5 bilhões no período. O déficit em transações correntes somou US$ 7,1 bilhões no mês e US $ 67,5 bilhões no ano, até outubro, patamar superior ao registrado no mesmo período de 2012, US$ 39,6 bilhões. Nos 12 meses encerrados em outubro, as transações correntes acumularam déficit de US$ 82,2 bilhões, equivalente a 3,67% do Produto Interno Bruto (PIB). A conta financeira teve superávit de US$ 2,5 bilhões no mês, e o ingresso líquido em investimentos estrangeiros diretos (IED), US$ 5,5 bilhões.
O Itaú Unibanco divulgou por meio de nota a análise de que o balanço de pagamento de outubro não repetiu a melhora dos dois meses anterior. "O saldo comercial foi negativo, o déficit de serviços se elevou, assim como a remessa de juros. No financiamento, o investimento estrangeiro direto teve participação elevada de dívida intercompanhia. No mercado local de capitais, houve redução relevante nos fluxos tanto para bolsa como para renda fixa. A taxa de rolagem de captações de médio e longo prazo aumentou, mas o nível de captações se reduziu", disse o texto.
O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, afirmou que o déficit das transações correntes no mês de outubro ficou acima da projeção da instituição para o período fundamentalmente por causa de uma reversão da balança comercial ao longo do mês. A expectativa do BC era de um saldo negativo de US$ 5,3 bilhões.
Para Maciel, a balança comercial e o segmento de serviços foram os itens que mais puxaram o déficit para cima ao longo de 2013. Segundo ele, o déficit em conta corrente de novembro deverá fechar em US$ 4,4 bilhões. Para a projeção, o técnico levou em conta o saldo da balança comercial em novembro, de US$ 1,724 bilhão.