Desemprego recua, mas renda do brasileiro cai 8,8% no último trimestre

Taxa de desocupação vai a 11,2% — a menor desde 2016 —, mas poder de compra do trabalhador diminui pela 11ª vez


04/04/2022 - 08:33

A taxa de desemprego recuou, mas a renda do trabalhador não para de encolher em um cenário de piora das condições contratuais e de inflação persistente, que corrói o poder de compra da população. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados ontem, o rendimento dos trabalhadores brasileiros recuou 8,8% no trimestre encerrado em fevereiro, na comparação com o mesmo intervalo de 2021, passando de R$ 2.752 para R$ 2.511.

“A queda da renda é resultado principalmente de uma alta da inflação com mercado de trabalho desaquecido”, destacou o economista Daniel Duque, pesquisador do Instituto Brasileiro Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). Vale lembrar que a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), tem ficado acima de 10% desde setembro de 2021, e não dá sinais de arrefecimento.

O índice de desocupação no trimestre móvel foi de 11,2%, índice 0,4 ponto percentual abaixo da taxa registrada nos três meses encerrados em novembro, de 11,6%, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua divulgada pelo IBGE. Esse é o menor percentual para o período desde 2016, quando o desemprego estava em 10,3%.

O dado ficou estável em relação ao trimestre encerrado em janeiro, de 11,2%, mas abaixo das expectativas do mercado, que esperava uma taxa maior, de 11,4%. Mas, na comparação com o mesmo intervalo de 2021, quando a taxa estava em 14,6%, a queda foi de 3,4 pontos percentuais.

Apesar desse recuo, analistas chamam a atenção para o número de desempregados, que continua elevado e somou 12 milhões de pessoas no trimestre encerrado em fevereiro. Para eles, em um ano eleitoral e com perspectivas de baixo crescimento, se houver, na economia, a tendência é de que o desemprego continue elevado ao longo de 2022.

“A taxa ainda é elevada, mas com uma desaceleração importante por conta de serviços, especialmente. Há uma retomada na saída da pandemia mais consistente agora. O negativo ainda é a renda por causa da inflação, mas isso não melhora muito com uma inflação de quase 8% no fim deste ano”, destacou Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. “De qualquer maneira, a queda do desemprego deve ser lenta a partir de agora, com os efeitos acumulados de juros e inflação impactando emprego e renda”, acrescentou. Ele prevê que, ao longo deste ano, a taxa média da taxa de desemprego deverá ficar em 11%.

Precarização

Arnaldo Lima, diretor de Estratégias Públicas do Grupo Mongeral Aegon (MAG), lembrou que, apesar da queda do desemprego na comparação anual, a queda pela 11ª vez consecutiva no rendimento do trabalhador é preocupante, assim como a piora na qualidade dos vínculos trabalhistas, sobretudo, quando se considera a proteção previdenciária.

“O percentual de pessoas contribuintes de instituto de previdência em qualquer trabalho caiu de 66,5% no segundo trimestre de 2020 para 62,8% da população ocupada na última leitura da pesquisa. Ou seja, mais de 4 milhões de trabalhadores ocupados perderam, nesse período, proteção contra os riscos de morte e invalidez e estão diminuindo sua longevidade financeira, pois estão deixando de poupar para ter um futuro seguro”, lamentou Lima.

Aliás, a precarização do mercado de trabalho é evidenciada pelo crescimento de trabalhadores com conta própria. Na comparação com os trimestres encerrados em fevereiro de 2021 e 2022, houve aumento de 2,007 milhões desse tipo de empreendedor, totalizando 25,353 milhões. Apesar da queda em relação aos 25,841 milhões contabilizados entre setembro e novembro de 2021, o dado de fevereiro é o maior da série histórica para o período, segundo o IBGE.

Enquanto isso, o volume de funcionários do setor privado sem carteira assinada, excluindo o trabalhador doméstico, aumentou 15,72%. Passou de 10,612 milhões, em 2021, para 12,281 milhões, em 2022. Já o montante de pessoas trabalhando com carteira assinada, na mesma base de comparação, avançou 9,43%, passando de 31,612 milhões para 34,596 milhões.

Diante desse cenário, Eduardo Vilarim, economista do Banco Original, lembrou que o aumento do número de pessoas trabalhando por conta própria é um retrato de momentos de crise, porque as pessoas tentam buscar alguma renda para sobrevivência em um cenário de economia recessiva, como ocorreu em 2015 e 2016. “O crescimento do número de pessoas trabalhando por conta própria é uma espécie de empreendedorismo forçado, para garantir uma renda, que está encolhendo”, explicou. “Esse quadro é totalmente diferente do que ocorre nos Estados Unidos, onde a força de trabalho está mais contida e os salários estão subindo”, comparou.

Apesar desses dados preocupantes, Vilarim destacou o aumento no número de empregadores e a estabilidade da taxa de desemprego como fatores positivos dos dados da Pnad neste início de ano. Conforme os números do IBGE, o total de empreendedores passou de 3,782 milhões, no trimestre encerrado em fevereiro de 2021, para 4,068 milhões no mesmo intervalo deste ano. Esse aumento, segundo o economista do Original, ajudou a evitar que a queda na renda média dos trabalhadores fosse menor. “A volta dos empregadores é a que mais demora a responder, mas são aqueles que costumam ter as maiores remunerações”, acrescentou.

De acordo com os dados do IBGE, o contingente de pessoas ocupadas foi estimado em 95,2 milhões, e o total somou 4,7 milhões de pessoas que desistiram de procurar emprego. Analistas reforçaram que, mesmo com a perspectiva de uma maior abertura do comércio e dos serviços por conta do avanço da vacinação no país, a tendência é de uma recuperação lenta do emprego.

“A recuperação do lado da oferta deve permanecer nos próximos meses, mas em um ritmo mais gradual, dado que a normalização do choque pandêmico deve estar chegando ao fim”, informou o relatório do Credit Suisse divulgado após os dados do IBGE. “Por outro lado, as condições financeiras mais apertadas, ou seja, juros futuros mais altos e aumento do prêmio de risco, inflação mais alta e maior incerteza econômica e política devem reduzir a demanda doméstica e afetar a recuperação do mercado de trabalho, principalmente, no mercado formal”, destacaram os economistas Solange Srour, Lucas Vilela, Rafael Castilho, signatários do documento.

Fonte: Correio Braziliense

 

Observatório Econômico
12/07/2023 - 09:24
Especialistas defendem novas formas de custeio de sindicatos

Assunto foi debatido em evento sobre os 80 anos da CLT, no Rio

07/02/2023 - 14:40
Técnicos do Sindifiscal/MS apontam que MS deve estreitar relações com a Índia

Análise das exportações de MS aponta que as vendas para Índia em 2022 aumentaram 325% em comparação ao ano passado




Veja mais

Reunião Ordinária do Conselho Deliberativo - Convocação

Reunião está marcada para sábado (23) as 09h00 presencialmente na cidade de Mundo Novo

Frente fria derruba temperaturas em Mato Grosso do Sul, mas calor retorna durante o dia

Em Campo Grande, o céu está parcialmente nublado, e a temperatura máxima não deve ultrapassar os 29°C hoje

Camex zera imposto de importação de remédios contra câncer

Outros 12 produtos, como insumos para pás eólicas, têm alíquota zerada




Sindicato dos Fiscais Tributários do Estado de Mato Grosso do Sul - SINDIFISCAL/MS

---