Por André Jácomo*

No final de setembro, a Comissão Especial da Câmara dos Deputados aprovou o texto que vai ser debatido em Plenário sobre a reforma administrativa. Em debate no Poder Legislativo há mais de ano, a reforma administrativa demora a andar. Normal, como toda e qualquer reforma estruturante em debate no Congresso Nacional. Mas também, a agenda de reformas costuma ganhar intensamente a agenda midiática e, por consequente, a saliência no debate da opinião pública.

Entretanto, não é isso que acontece com a reforma administrativa. Pesquisa de opinião realizada pelo Instituto FSB Pesquisa com uma amostra representativa da sociedade brasileira, mostrou que o desconhecimento da população brasileira sobre o assunto ainda é predominante: 54% dos entrevistados pela pesquisa afirmaram nunca terem ouvido falar sobre o que se trata essa pauta.

No sentimento da opinião pública, o apoio à reforma administrativa é majoritário, embora não seja uma maioria esmagadora. Mesmo que em tese para muitos, 58% dos brasileiros são favoráveis às mudanças de regras no regime jurídico dos servidores públicos, enquanto que somente 18% são contrários. Os outros 24% não se posicionam no debate, muito provavelmente por causa do desconhecimento sobre seu conteúdo. Mas filtrando-se apenas os indivíduos que possuem algum grau de conhecimento sobre o assunto, a aprovação da reforma administrativa vai para 70%.

O grande pano de fundo para explicar esse apoio da maioria da sociedade brasileira é a questão financeira. Há uma forte percepção na opinião pública que os gastos do governo federal para pagamento de salários dos servidores públicos são muito altos ou altos (54%) e que os salários dos servidores públicos, de um modo geral, também são elevados (49%).

Claro, essas percepções não são homogêneas. Mas é importante destacar que são moradores das capitais e das regiões mais ricas do país que concordam com essas visões. Isso explica-se muito provavelmente pelas grandes diferenças salariais dos servidores públicos federais em comparação com os servidores públicos estaduais ou municipais.

Outra explicação é uma visão consolidada sobre a ineficiência do serviço público brasileiro: 12% avaliam a relação entre gasto e qualidade dos serviços públicos como “ótima” ou “boa”, 31% como “regular” e 46% como “ruim” ou “péssima”. Aqui reside um ponto importante: em geral, a imagem da ineficiência dos serviços públicos é consolidada em quase todos perfis sociodemográficos. Não há diferenças de percepção entre os perfis mais dependentes do serviço público (pessoas com menor renda ou moradores do interior) em comparação com os perfis menos dependentes do Estado.

Ainda há muito para a reforma administrativa andar no Congresso Nacional. Mas na opinião pública, o caminho parece ser mais favorável. *André Jácomo é diretor do Instituto FSB Pesquisa Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a EXAME. O texto não reflete necessariamente a opinião da EXAME. Fonte: Exame