Ao mesmo tempo em que os empresários entendem a importância dos profissionais com mais de 40 anos para o desenvolvimento dos negócios, não consideram que a contratação dessas pessoas seja uma alternativa para a escassez de mão de obra qualificada.
Essa é a avaliação do sócio-líder de People&Change da PWC, João Lins, com base em estudo elaborado em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV). Segundo ele, apenas 37% dos 85 entrevistados no Brasil responderam que a força de trabalho mais velha é a alternativa para a falta de qualificação profissional no País.
Contudo, o especialista afirma que as empresas, principalmente as grandes, já desempenham ações internas para otimizar o trabalho do funcionário acima de 40 anos, assim como contratá-los. "Apesar do resultado, há uma tendência de mudança de postura sinalizada pelas empresas consultadas. Tendência essa que precisa de políticas públicas e privadas, não só de modo a aumentar a qualidade do ensino de todo o Brasil, como a educação dentro da empresa", disse ele, durante evento sobre o tema realizado ontem pela Câmara Americana de Comércio (Amcham).
Na opinião da economista do departamento de pesquisas e estudo econômicos do Bradesco, Ana Maria Bonomi Barufi, a contratação dessas pessoas não só tem um impacto na economia brasileira, como também nas contas públicas.
"A perspectiva é que se as empresas contratarem pessoas mais velhas, elas terão um estímulo maior para não ir para aposentadoria. Claro que terá o direito ao INSS pelo tempo de contribuição, mas poderá ter algum impeditivo. Por exemplo, se a pessoa observar que ganhará menos se aposentar agora, ela poderá postergar a aposentadoria. Isso contribui para a economia. Fora que ela, mantida no mercado de trabalho, continuará a ser contribuinte e seguirá a sustentar o sistema previdenciário", avalia.
De acordo com o representante da PWC, é importante estudar alternativas para a falta de qualificação profissional porque este cenário deve durar de cinco a dez anos. "A escassez de talentos não vai mudar nos próximos cinco a dez anos, primeiro porque a economia, mesmo crescendo menos, tem gerado empregos formais, por isso que a taxa de desemprego se mantém baixa. E com a população economicamente ativa diminuindo nos próximos anos, essa taxa deve ficar no atual patamar de 6%. Além disso, embora haja investimentos maciços na nossa educação, esse cenário não se reverte rapidamente. Esse conjunto de fatores leva a essa conclusão. A saída para as empresas é investir em educação corporativa", sugere.
Ao ser questionado pelo DCI, se depende somente das empresas aumentar essas contratações ou se o governo precisar estimular esses investimentos, João Lins responde que "o próprio mercado tem condição de se ajustar e encontrar seus caminhos. Não precisa de incentivo governamental". "O que se espera é que o governo faça sua parte no que se refere à melhoria da educação do País, para isso que ele recebe impostos", disse.
Pontos para contratação
Ainda segundo o estudo da PWC em parceria com a FGV, os entrevistados apontaram quais são as principais vantagens e desvantagens para contratar pessoas acima de 40 anos. Dentre as principais vantagens, para 94% dos respondentes está a experiência profissional adquirida ao longo da carreira. Em seguida aparecem o comprometimento e senso de responsabilidade, e a diversidade de ideias e pontos de vista deles, ambos indicados por 73%, cada. Depois está a capacidade deles para disseminar a cultura da empresa para funcionários mais jovens (51% dos entrevistados).
Com relação às principais desvantagens, 96% apontaram a falta de adaptação às mudanças; 80% escolheram a dificuldade em lidar com novas tecnologias; 69% entendem a atualização frente às exigência do mercado como um defeito dessas pessoas; e 63% escolheram a acomodação por conta da aposentadoria.