O ministro afirmou que, durante a pandemia, foi feito 'em guerra o que não fizemos em tempo de paz: assumir o controle do orçamento'
Durante a pandemia, foi feita uma reforma administrativa invisível, disse há pouco o ministro da Economia, Paulo Guedes, em evento do BTG Pactual. “Quanto pedimos a trégua de reajustes por causa da pandemia, foram R$ 160 bilhões que não se transformaram em tentativa de reposição de perdas inevitáveis na pandemia”, disse. A cifra se refere a União, Estados e municípios.
Além disso, avançou a digitalização. Hoje são mais de 1.000 serviços oferecidos via internet.
“Governos anteriores contrataram 160.000 funcionários e deram aumento de 5% acima da inflação quando tinha o caos instaurado no Brasil”, criticou.
O ministro repetiu que, durante a pandemia, foi feito “em guerra o que não fizemos em tempo de paz: assumir o controle do orçamento”. A classe política, afirmou, tem o ônus e o bônus de decidir sobre o uso do recurso público. Mas, no Brasil, acontece o contrário, porque 96% do orçamento é predeterminado.
O ministro agradeceu a ajuda do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) na aprovação de reformas, como o BC independente, o marco das startups, do setor elétrico e a reforma do Imposto de Renda (que passou na Câmara e parou no Senado).
“Estamos na direção correta e fizemos muitas reformas”, afirmou. “Vamos seguir com privatizações.”
A economia brasileira tem vigor, comentou Guedes. Cresceu 4,5% no ano passado, mesmo com a retirada de estímulos fiscais. “Este ano tem o Auxílio Brasil”, disse.
Abertura econômica
O governo poderá promover uma nova rodada de redução nos impostos de importação, disse o ministro da Economia. “Estamos começando a abrir a economia”, disse. “Baixamos a TEC e podemos baixar de novo antes do fim do governo.”
Ele citou ainda o fato de o Brasil estar na lista de acesso à OCDE.
Ao falar sobre o ajuste fiscal, o ministro citou o fato de os bancos públicos terem devolvido R$ 260 bilhões aos cofres públicos, ao mesmo tempo em que houve democratização do crédito.
Citou também o fato de o governo haver controlado os gastos com Previdência e juros e haver promovido uma reforma administrativa “invisível”. Ficou faltando, disse, estabelecer regras para os novos servidores – referindo-se à reforma administrativa, não aprovada.
Ele negou ainda que a regra criada para pagamento de precatórios seja calote. “É o contrário do calote”, disse.
Explicou que os precatórios cujos pagamentos ficarem acima do teto de gastos entrarão numa fila, da qual será possível sair comprando ações de estatais, participando de conessões. “Vai lá e ajuda a transformar o Brasil”, disse.
Guedes reclamou de “desonestidade intelectual” dos críticos de sua gestão e lembrou que o país atravessou a maior recessão da história.
“Temos toda uma plataforma de investimentos que vai colocar o Brasil crescendo durante anos”, disse, referindo-se aos mais de R$ 800 bilhões em investimentos contratados. “O Brasil está condenado a crescer.”
Privatizações
Das receitas obtidas com privatizações, 20% a 30% serão destinadas a erradicar a pobreza, disse Guedes.
“A pandemia deixou duas lições: não há substituto para a boa política e podemos reduzir a pobreza relativamente rápido”, afirmou. Com o pagamento do auxílio emergencial, houve a “maior queda da miséria em 40 anos no Brasil.”
Ele repetiu a proposta de utilizar parte das receitas com privatizações para fortalecer o fundo de erradicação da pobreza. “Vamos botar incentivo para a classe política acelerar privatizações”, disse. “Quem sabe não vai ter apoio da população [às privatizações].”
Arrecadação
A arrecadação de janeiro, ainda a ser anunciada em um ou dois dias, teve crescimento de 16%, completou o ministro. Acrescentou que é uma demonstração de força da economia. Os analistas vão errar de novo, ao dizer que o crescimento será zero, disse.
“Anunciamos o primeiro superávit consolidado em oito anos”, disse o ministro, ao falar da melhora das contas públicas em 2021. “O Brasil é o único país que está em pé de novo como estava antes da pandemia”, disse. A dívida pública, citou, está em 80% do PIB, e era 76% do PIB antes da pandemia.
“Na pandemia, assumimos o controle político do orçamento: tem para saúde, não tem para salários do funcionalismo”, explicou. Com isso, foi feito “o maior ajuste fiscal da história”. “Agora vamos mergulhar no passado tenebroso de indexações ou vamos assumir o controle do orçamento?”, questionou. “Agora é ano de eleição; vamos anular esse ganho? É a decisão que está à nossa frente.”
O ministro afirmou ainda que houve uma “revolução silenciosa” em investimentos. Há R$ 829 bilhões em investimentos contratados. A potencialidade dos investimentos é explicada pela reforma de marcos regulatórios, disse. Citou como exemplo os investimentos da Cedae, que somam R$ 50 bilhões. O valor corresponde a 6,5 vezes o orçamento de saneamento anual.
Situação internacional
Vamos assistir a um agravamento da situação internacional, disse o ministro da Economia. “A geopolítica está séria, mas estou falando de economia”, ressalvou. Ele não comentou a escalada de tensões entre Rússia e Ucrânia.
Ele afirmou que as economias centrais “dormiram ao volante” e não contiveram a tempo o processo inflacionário. “Vai ser desaceleração sincronizada com inflação”, afirmou.
O Brasil, ao contrário, vai crescer. O Banco Central “acordou primeiro” e combateu a alta de preços. Guedes previu que os analistas passarão o ano revendo as estimativas de crescimento da economia brasileira para cima.
Foto: CRISTIANO MARIZ/Agência O Globo
Fonte: Valor Investe