O montante de US$ 64 bilhões da entrada de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) em 2013 não foi suficiente para cobrir o déficit em conta corrente que chegou a US$ 81,4 bilhões, equivalentes a 3,66% do Produto Interno Bruto (PIB). Para 2014 os especialistas consultados pelo DCI acreditam que o déficit de conta corrente deve vir um pouco menor, mas os investimentos devem continuar no mesmo patamar.
Para o professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Silvio Paixão, o que mais tem preocupado é o déficit em conta corrente que aumentou em quase 50% comparativamente aos US$ 54,2 bilhões registrados no ano passado.
Para este ano, o Banco Central (BC) projeta déficit de US$ 78 bilhões na conta corrente e ingresso de investimentos estrangeiros em um total de US$ 63 bilhões. O chefe adjunto do Departamento Econômico do BC, Fernando Rocha, completou que "o déficit será revertido este ano tanto em valores nominais quanto em valores do PIB".
"O crescimento do déficit foi causado fundamentalmente pela redução no superávit comercial em 2013", disse Rocha. Ele acrescentou que o déficit na conta de serviços caminhou junto com o aumento das remessas líquidas no ano, com destaque para viagens internacionais e aluguel de equipamentos. A balança comercial fechou o ano passado com um superávit de US$ 2,5 bilhões e a conta serviços registrou despesas líquidas de US$ 47,5 bilhões, elevação de 15,8% na comparação com 2012.
Para Rocha, o resultado em transações correntes está vinculado à necessidade maior de poupança externa para financiar economia brasileira. Ele comentou ainda que houve um aumento significativo dos investimentos de renda fixa no País, depois da retirada do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Para o professor da Fipecafi, o governo deveria ser mais cuidadoso em relação ao comércio exterior. "Para mim o comércio exterior é o grande motor do crescimento dos próximos anos, o Brasil está entre a quinta e a sétima economia do mundo, e sua participação no comércio internacional não é compatível com isso, em cerca de 1%", completou.
O professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Evaldo Alves, chamou a atenção para a piora das relações da área externa. Apesar disso, ele acredita que o governo tem feito um esforço para melhorar a situação comercial e vê que a cotação do real será um dos fatores que mais irá influenciar o setor neste ano, já que é esperada uma valorização do dólar devido ao provável ajuste na política econômica do Fed (banco central americano) .
Apesar disso, ele chamou atenção para o fato de um possível encarecimento dos insumos industriais. "O dólar vai exigir dos importadores mais poder de negociação com seus fornecedores", observou o professor.
Outros dados - A conta de viagens internacionais apresentou déficit de US$ 1,6 bilhão no mês, influenciado pelos aumentos de 3% dos gastos de estrangeiros no Brasil e de 11,5% dos gastos de brasileiros no exterior, ambos na comparação com dezembro de 2012. No ano, o saldo negativo de US$ 18,6 bilhões constituiu o recorde da série, aumentando 19,5% em relação ao ano anterior, com receitas e despesas atingindo os níveis máximos de US$ 6,7 bilhões e US$ 25,3 bilhões, respectivamente.
As remessas líquidas de renda para o exterior somaram US$ 7,5 bilhões no mês, 14,4% acima do resultado de dezembro de 2012, acumulando US$ 39,8 bilhões em 2013, crescimento de 12,2% na comparação com o ano anterior.
As reservas internacionais, no conceito liquidez, totalizaram US$ 375,8 bilhões em dezembro, redução de US$ 302 milhões em relação ao estoque do mês anterior. No mês, a liquidação de operações de linhas de recompra atingiu vendas líquidas de US$ 3,3 bilhões, enquanto o estoque totalizou US$ 17 bilhões.
A posição da dívida externa bruta estimada para dezembro totalizou US$ 312 bilhões, elevação de US$ 4,3 bilhões em relação ao estoque de setembro de 2013. A dívida externa estimada de longo prazo atingiu US$ 279,2 bilhões e o estoque de curto prazo, US$ 32,9 bilhões, variações de US$ 5 bilhões e de - US$ 697 milhões nas mesmas bases comparativas. Para o professor da Fipecafi, "as reservas tem que ser preservadas. Não acho que a dívida bruta seja preocupante pelo tamanho da economia, ela fica desequilibrada em comparação com o saldo da balança comercial, que está quase zerada", completou o especialista.