Ipea admite recessão técnica e diz que não há 'culpados óbvios'




24/10/2014 - 00:00

A economia brasileira vive um “momento complexo” e o fraco desempenho recente do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) está mais relacionado à uma desaceleração da demanda que a crises no exterior, segundo relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Em sua carta de conjuntura de outubro, o Ipea aponta que o país está em “recessão técnica” (caracterizada por dois trimestres seguidos de queda no PIB), e que não há “culpados óbvios” para a piora dos dados.

“O momento atual não se caracteriza por crises externas, flutuações bruscas nos preços macroeconômicos e/ou ‘apagões’ energéticos. A inexistência de culpados óbvios – isto é, de 'choques negativos' de grande monta – torna ainda mais significativo o fenômeno da estagnação econômica recente”, diz o texto.

Em setembro, ao comentar o resultado do PIB do segundo trimestre – que mostrou queda de 0,6% – o ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou que houvesse recessão, e disse que se tratava de uma "parada prolongada". "Aqui [no Brasil] estamos falando de dois trimestres e sabemos que a economia está em movimento. Recessão é quando tem desemprego aumentando e a renda caindo. Aqui temos o contrário", disse.

Choques importantes

O instituto aponta que, nas últimas décadas, o país só entrou em recessão técnica ao ser atingido por choques negativos importantes, como a crise financeira internacional de 2008, o “apagão” de 2001 e a Crise da Rússia em 1998-1999.

“Nestes momentos, o que se viu foi a interrupção mais ou menos súbita da atividade econômica seguida por custosos ajustes – em regra, marcados por aceleração da inflação, desvalorização do câmbio, recessão e aumento do desemprego. A situação atual é, nesse sentido, bastante diferente”, diz o Ipea.

No documento, o Ipea aponta que a “fundamental distinção” do momento atual é que a desaceleração da atividade vem se dando de maneira gradual, refletindo principalmente a perda de ritmo do consumo.

O instituto ressalta que uma segunda diferença vem do fato do desemprego permanecer nos níveis mais baixos da série histórica, e que a renda real continua crescendo. Mas aponta, no entanto, que o baixo crescimento do PIB “tende a piorar gradualmente a situação do mercado de trabalho”.

Fonte: G1

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