Quando ainda se fala em desigualdade no mercado de trabalho para homens e mulheres, a fiscal tributária (FTE) aposentada Hernanda Ferreira Montalvão com 98 anos só tem boas lembranças. Ela foi nomeada como “exatora” em 21 de junho de 1977 pelo então governador do ainda estado do Mato Grosso, José Garcia Neto. A FTE mais antiga registrada no Sindicato dos Fiscais Tributários de Mato Grosso do Sul - Sindifiscal/MS - conta que nunca foi desrespeitada por ser mulher. Antes de ser “exatora”, um cargo antigo que foi extinto, ela era costureira e trabalhava em casa. Com a morte do marido em 1973, ela precisou de um trabalho que pudesse dar condições para que pudesse se sustentar, foi então que conseguiu o cargo. Hernanda se aposentou em 13 de junho de 1991. Ela guarda com zelo sua carteira funcional e tem orgulho do seu pioneirismo. “Fui muito bem recebida e sempre me trataram com muito carinho, pois era o primeiro trabalho e um cargo de muito respeito”, revelou. Já, Tainara Luara Bragato, FTE do último concurso, e uma das mais novas no registro do Sindicato, conta que há pouco tempo, o setor de fiscalização tributária era basicamente masculino. Hoje, segundo ela, o número de mulheres vem aumentando. “Nem sempre somos tratadas com respeito quando estamos fiscalizando uma carga, mas isso já mudou muito. Só que essa mudança é lenta, uma vez que é cultural”, explica. O presidente da entidade, Francisco Carlos de Assis, Chiquinho, comentou que ainda existem barreiras a serem enfrentadas. “ O dia da Mulher é para lembrarmos que ainda existem muitos problemas a serem resolvidos, como os da violência contra a mulher, do feminicídio crescente, do aborto e da própria diferença salarial”, aponta. Dos 1.139 filiados ao Sindifiscal/MS, 24% são mulheres. Chiquinho acredita que logo esse quadro deve mudar. “Até a última eleição do Sindifiscal, não tínhamos mulheres concorrendo. Na última, as mulheres começaram a ocupar cargos diretivos. Queremos vê-las não só no sindicato, mas também nos cargos de chefia e liderança”, aposta. A equidade de condições no mercado de trabalho não é uma luta atual. Nas décadas de 1960 e 1970, as mulheres adquiriram algumas liberdades civis. Uma delas foi a desobrigatoriedade da autorização do marido para poder trabalhar. Ainda há muito o que se fazer, um estudo do IBGE, divulgado no último dia 4 de março, apontou que 54,5% das mulheres com 15 anos ou mais compunham a força de trabalho no país em 2019. Entre os homens, esse percentual era de 73,7%.