Os cálculos, feitos pelo pesquisador Marcel Balassiano, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), consideram as novas projeções do órgão internacional, de retração de 5,8% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste ano, seguida da expansão de 2,8% em 2021. Assim, na média, a economia nacional encolheria 1,6% em cada ano.
Caso as expectativas do FMI sejam confirmadas, o Brasil terá recessão mais forte do que a observada em países avançados, que devem recuar 1,1% ao ano, em média, neste ano e no próximo. A comparação com o grupo de emergentes é ainda mais negativa para o Brasil, uma vez que, devido à pujança da China, a economia desses países deve crescer 1,3% na média anual.
Em relação a seus pares na América Latina, no entanto, o Brasil estaria bem posicionado: o FMI prevê retração média de 2,5% para o PIB do continente em 2020 e 2021. A “vantagem” da economia brasileira se explica pelas medidas de distanciamento social mais brandas por aqui, assim como pela dose mais expressiva de estímulos fiscais e monetários lançada pelo governo, aponta Balassiano.
Já o PIB mundial deve ficar em terreno positivo no período, com alta média de 0,3% nos dois anos nas estimativas do FMI. Balassiano destaca, porém, que a dinâmica mais favorável não será disseminada. A expansão deve ser puxada por poucos países, com destaque para o gigante asiático - única grande economia que deve crescer neste ano (1,9%).
Prova disso é que, segundo o novo cenário do FMI, somente um terço (34%) das economias analisadas vai reaver todas as perdas de 2020 no ano seguinte. O Brasil, portanto, não estaria isolado ao terminar 2021 com o PIB ainda 3% aquém do nível de 2019, segundo as previsões de outubro do organismo.
Em igual comparação, observa Balassiano, o FMI estima que a economia mundial vai crescer 0,6%, na esteira dos países emergentes, que devem avançar 2,6% no período. Dentro desse grupo, no entanto, as economias da América Latina ainda estarão no campo negativo em relação ao patamar pré-crise, com recuo de 4,8%. Os países desenvolvidos também ainda estarão no vermelho (perda de 2,1%).
“Ou seja, a retomada do PIB mundial será puxada pela recuperação de poucos países com peso grande, como a China”, resume o economista do Ibre/FGV. Para ele, a maior clareza em relação aos efeitos econômicos da pandemia, com dados já conhecidos para o segundo trimestre, explica os números mais modestos do FMI para a recuperação a ser registrada no ano que vem em grande parte das economias.
Em abril, quando havia enorme grau de incerteza sobre o impacto do novo coronavírus no nível de atividade, o FMI previa que mais da metade (53%) das economias acompanhadas já teria recuperado as perdas de 2020 no ano seguinte. Esta foi a última vez em que a entidade fez estimativas para o grupo de 193 países. Também naquela ocasião, era esperado que 82% dessa amostra, ou 155 países, superasse o desempenho econômico brasileiro no biênio 2020/2021.
À época, a expectativa do FMI era de redução média de 1,3% do PIB brasileiro em cada ano. Assim, a melhora relativa da posição do Brasil nas novas estimativas foi consequência mais da piora das projeções para os demais países do que de maior otimismo nas previsões para a economia nacional, ressalta Balassiano.
Na revisão de cenário de junho, em que o FMI divulgou projeção de queda de 9,1% para a economia brasileira neste ano e aumento de 3,6% no próximo, foram publicadas estimativas para um conjunto menor, de 15 nações, observa o economista.
Apesar do prognóstico menos pessimista para o Brasil, o órgão internacional ainda tem perspectivas mais comedidas do que os economistas de mercado. Pela mediana de estimativas coletadas pelo Banco Central no boletim Focus, o PIB brasileiro vai cair 5% em 2020 e crescer 3,5% em 2021, o que resultaria em perda média anual de 0,9% no período (usando média geométrica, e não aritmética).
Considerando as previsões mais otimistas do Focus, o percentual de países acompanhados pelo FMI que teria desempenho superior ao do Brasil neste ano e no próximo diminuiria a 48%.
Órgãos como o FMI e o Banco Mundial fazem projeções com certa defasagem, ao passo que o boletim do Banco Central é atualizado semanalmente, nota Balassiano.
Por isso, é natural que as estimativas de mercado e do FMI tenham alguma discrepância, afirma o economista do Ibre.
Fonte: Valor Econômico