A previsão do coresponsável de economia e estratégia para a América Latina do Barclays, Marcelo Salomon, é de que a próxima gestão federal terá que reformular sua política fiscal para voltar a atrair investimentos.
Segundo ele, isto porque, pelo cenário atual - intervencionismo em projetos, junto com uma deterioração da política fiscal (não irá cumprir a meta fiscal) e com um fraco crescimento econômico nos próximos anos - as agências de classificação de risco irão rebaixar o rating do Brasil no primeiro trimestre de 2014.
"Acredito que se a Dilma Rousseff [atual presidente da República] for reeleita será uma Dilma reformulada, com um pouco mais pragmatismo. De qualquer forma, alguma coisa será feita", acrescentou o economista.
Para o professor de economia do Ibmec, Reginaldo Nogueira, é possível que os investimentos advindos do leilão do campo de Libra realizado ontem - o maior campo de petróleo já descoberto no Brasil - ocorra uma pequena melhora nas contas públicas, mas insuficientes para que a meta do superávit primário (economia para o pagamento dos juros da dívida pública) seja alcançada.
Na visão do economista da Barclays, para atrair investimentos o ideal seria o governo anunciar "neste momento" que irá recompor a política fiscal, com metas claras que ira atingir o superávit primário sem o uso da "contabilidade criativa". "Mas não acredito que isso irá acontecer antes das eleições", prevê, ao complementar que essa mudança evitaria a redução do rating brasileiro.
A boa notícia, conforme ele, é que o Banco Central (BC) está conduzindo uma política monetária austera em meio à pressão inflacionária, além de estar atento às apreciações cambiais.
Dificuldades
No curto prazo, mesmo com mudanças na política fiscal, o economista do Barclays não espera que taxa dos investimentos (públicos e privados) em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) seja diferente dos atuais 18%.
Tanto Salomon, quanto Nogueira afirmam que a sinalização dada pelo leilão de Libra é de que o governo terá dificuldade para atrair investidores estrangeiros para outros projetos.
Nogueira comenta que o leilão de ontem "não foi um fracasso" devido à participação de importantes empresas como a Shell no consórcio vencedor, mas não foi um sucesso, porque não houve concorrência. "Isso leva a crer que os próximos leilões poderão ter dificuldades", disse.
Para o especialista, o maior problema é a falta de regras claras nos projetos lançados pelo governo. "Um exemplo desse problema que os investidores estão atentos é a situação do setor elétrico. O que os empresários querem é uma previsibilidade com políticas mais horizontais", explica Nogueira, ao se referir ao embate entre o governo e empresários para reduzir a tarifa do setor elétrico no País.
Conforme divulgado pelo DCI na edição de ontem, o maior receio dos investidores e que foi sinalizado pelo leilão de Libra é o intervencionismo do governo nas operações. "Os empresários vão observar nos próximos dois a três anos como vai se viabilizar a parceria com a Petrobras", estima o professor do Ibmec.
Salomon avalia que a notícia de que o próprio governo pretende mudar as regras dos próximos eventos é uma sinalização de que a gestão pública reconhece que não terá sucesso nos próximos.
"O governo quer garantir o menor preço na operação, oferecendo um funding mais barato via BNDES, mas limita a taxa de retorno. Para o investidor o último é o mais interessante se for mais alto. Somado ao fato de que ninguém quer um sócio gerido por um governo intervencionista", ressalta Salomon.
A expectativa do banco é de que os investimentos totais cresçam 7,9% neste ano ante o registrado no ano passado. "Esse crescimento pode parecer alto, mas vem depois de uma queda de 4% observado em 2012", acrescentou. Para 2014, o Barclays espera uma desaceleração, para expansão de 1,6%. Este cenário contempla uma projeção de crescimento econômico de 2,7% para 2013, e de 2,2% para 2014, de acordo com o economista.