A eclosão da crise política envolvendo o governo de Michel Temer após as delações da JBS fez alguns bancos e consultorias piorarem suas expectativas em relação à recuperação da economia neste ano. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, chegou a dizer que o próprio governo irá rever suas expectativas, mas depois voltou atrás. De 14 bancos, agências de risco e consultorias pesquisados pelo G1, incluindo também o boletim Focus (relatório do BC que reúne uma mediana das projeções de mercado), houve 7 reduções no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2017. Outras 7 instituições mantiveram as previsões feitas antes de maio – mês em que surgiram as primeiras notícias sobre as gravações que o empresário Joesley Batista fez de conversa com o presidente Temer. A piora nas expectativas acontece em meio a incertezas de que o governo Temer será capaz de aprovar no Congresso medidas econômicas consideradas necessárias para reaquecer a economia, como a reforma da Previdência. Enquanto isso, outros economistas avaliam que o impacto da crise política pode ser mitigado. Veja abaixo as explicações de um economista que reduziu sua projeção e outra que manteve. Por que reduzir a previsão? Após as delações da JBS, o banco Fator reduziu sua projeção de alta do PIB de 1% para 0,4% em 2017. Para 2018, também houve piora nas estimativas, com o crescimento esperado passando de 2,3% para 1,7%. A justificativa principal para a piora da previsão é o abalo na confiança dos empresários. Isso faria os investimentos, já cambaleantes, ficarem ainda mais reduzidos. Essa é a explicação de José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco. Segundo ele, isso se agrava em meio a um cenário de investimentos públicos em queda e consumo fraco, o que deixa o PIB sem um elemento suficientemente forte para puxá-lo para cima. “Os investimentos do setor privado não vão acontecer. E os do governo, ao contrário, estão caindo”, acrescenta Gonçalves, citando a PEC do teto dos gastos, regra aprovada pelo Congresso que proíbe o governo de elevar suas despesas acima da inflação. “Precisa lembrar que o governo vendeu a reforma da Previdência como forma de viabilizar a PEC do teto”, acrescenta Gonçalves. “Ou seja, é bastante razoável imaginar que essa PEC do teto está em risco. Corremos o risco de ter uma emenda constitucional que não pega”. O economista credita a expectativa de piora da confiança às dificuldades do governo em aprovar no Congresso medidas para tentar reaquecer a economia, citando especialmente a reforma da Previdência. “Tudo que depende de negociação do governo passa a ser muito difícil de passar esse ano, principalmente como foi pensado, como foi enviado pelo governo para o Congresso”. Gonçalves acredita que, apesar do cenário turbulento, o presidente Temer irá permanecer no cargo. “Do ponto de vista político, é mais interessante acalmar a situação para todos os partidos, à exceção talvez de um ou outro da oposição atual. Então, eu acho que isso retira um pouco da pressão sobre o presidente”, avalia. “De outro lado, é difícil imaginar que exista um sucessor. (...) Então, nosso cenário é de que a situação fica como está, em princípio até a eleição do ano que vem”. Por que manter a previsão? A XP Investimentos manteve sua projeção para o PIB neste ano, com intervalo de 0 a 0,5%. A economista-chefe Zeina Latif justifica que os principais “canais" pelos quais a economia pode ser contaminada pela crise política não foram afetados de maneira tão intensa. A piora nas expectativas para o ano que vem também se deu pela expectativa de mais dificuldades para a aprovação da reforma da Previdência, especialmente por causa das eleições de 2018. O primeiro, segundo Latif, é o mercado financeiro – que, após reagir com força às primeiras notícias sobre as delações da JBS, passou a operar mais acomodado, ajudado por um cenário externo positivo. “A contaminação da crise política na economia via mercado financeiro é limitada”, diz a economista. Latif também aponta que a confiança dos consumidores e empresários também pode ser afetada pela crise política, mas diz que esse efeito é minimizado pelo fato de a economia já estar dando sinais de recuperação. Isso porque os índices de confiança são divididos entre expectativas para o futuro e percepção da situação atual. “Pode ser que esse indicador mais ligado às expectativas sinta. Mas aquele associado às condições econômicas correntes, que vem numa tendência de alta e é menos volátil, ele deve seguir. Então, mesmo que a componente expectativas sofra, a componente situação atual segura”, aponta Latif. Latif também não acredita que a crise política levará a uma diminuição do ritmo de corte de juros. “É um governo fraco? É. É um governo que precisa fazer concessões? É. Mas creio que não seria a ponto de prejudicar o caminho do Banco Central porque seria até um tiro no pé fazer isso. Porque, hoje, o único instrumento para a gente ter alguma recuperação da economia é via corte de juros”. Sobre a dificuldade em se aprovar a reforma da previdência, Latif diz que a preocupação impacta as projeções para a economia nos próximos anos, e não no curto prazo. “O governo consegue (neste ano) fazer a gestão da política fiscal apesar de não ter a reforma". "A minha preocupação maior é de médio e longo prazo”. A economista também cita a PEC do teto de gastos, mas ressalva que por si só, a medida não resolve o problema das contas públicas. “A regra do teto é o que contribui para essa ligeira calma dos mercados, porque sabem que, mesmo não tendo a reforma da Previdência, pelo menos no curto prazo você tem a amarra. (...) mas é óbvio que os analistas sabem que sem reformas estruturais você não consegue cumprir a regra do teto”. Sobre a permanência ou não de Temer no cargo, Latif acredita que o efeito sobre as expectativas econômicas no curto prazo seja mínimo. Expectativas do governo O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, admitiu no final de junho que o crescimento da economia em 2017 será menor do que o governo previa. A estimativa oficial era de 1%, e foi reduzida para 0,5%. Em coletiva de imprensa em São Paulo, o ministro diz que o crescimento será ainda menor. Semanas depois, Meirelles voltou atrás e disse que o governo vai manter em 0,5% a sua projeção oficial de crescimento do PIB. "Nós continuamos com a previsão de crescimento. Vamos manter em 0,5% a estimativa de alta do PIB neste ano]", afirmou ele a jornalistas na Alemanha, onde participou da reunião do G20. Fonte: G1