O número de desempregados diminuiu, mas profissionais com formação de nível superior têm sido contratados em empregos que não exigem qualificação. No segundo trimestre deste ano, 78,6% dos trabalhadores com diploma de graduação só encontraram vagas em ocupações atípicas, ou seja, para trabalhar em áreas em que a formação acadêmica não é necessária. Os dados são de um levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Neste período, em comparação com o ano anterior, aumentou em 16,4% o número de balconistas e vendedores de lojas que concluíram o ensino superior, e em 6,8% o de vendedores a domicílio com o mesmo nível de formação.
Apenas 160 mil foram contratados em empregos que exigem o diploma, em um total de 749 mil novos contratos.
A pesquisa do Dieese mostra que a ocupação e a geração de empregos têm aumentado principalmente em posições que requerem menos escolaridade e pagam menores salários.
Segundo Gustavo Monteiro, economista do Dieese, a precarização do mercado de trabalho se deve à retomada de uma demanda reprimida pela pandemia e a estímulos feitos à economia, como o Auxílio Emergencial, o Auxílio Brasil e o adiantamento do FGTS.
— Essa retomada não é baseada em um planejamento para o fortalecimento dos setores, com geração de empregos que são mais produtivos. Não está acontecendo nos setores de produtos mais complexos, mas, sim, de serviços menos complexos, que geram menos valor agregado. A retomada está sendo baseada em políticas de curto prazo, e não em estratégia — analisa Monteiro.
Queda na renda
Essa mudança na dinâmica de trabalho também se reflete na renda das famílias. Entre os trabalhadores com ensino superior completo, o rendimento médio aumentou somente em três grupos ocupacionais, enquanto em outros sete segmentos houve redução.
Entre as principais quedas, estão membros das forças armadas, policiais e bombeiros militares, que viram a renda diminuir 7,2%. Além deles, houve recuo na renda de profissionais das ciências e intelectuais (-6,9%) e diretores e gerentes (-4,9%).
Para Monteiro, que conduziu a pesquisa, a tendência causa impactos negativos no indivíduo e na sociedade:
— O resultado é um país onde falta retorno no investimento feito em educação superior. Há também a perda individual de quem lutou para se formar e não consegue emprego na sua área, encarando um mercado de trabalho difícil de entrar. Com o tempo, essas pessoas envelhecem e fica ainda mais difícil retornar à área de estudo, além de terem sua renda reduzida, o que gera redução no consumo e endividamento.
Segundo o economista, é necessário um planejamento para o futuro e estratégias de longo prazo que visem a ampliação na oferta de empregos com demandas especializadas.
Fonte: O Globo