Sem apoio, Reforma Administrativa está parada na Câmara

Reforma Administrativa não tem avanços na Câmara dos Deputados desde setembro de 2021, quando texto foi aprovado pela Comissão Especial


16/03/2022 - 08:30

Reforma Administrativa não tem avanços na Câmara dos Deputados desde setembro de 2021, quando texto foi aprovado pela Comissão Especial

 

Há seis meses, a proposta de Reforma Administrativa não apresenta avanços na Câmara dos Deputados. O motivo é a falta de apoio dos parlamentares ao texto que visa mudanças no serviço público brasileiro. 

O presidente Jair Bolsonaro e sua base não conseguiram votos de, pelo menos, 308 deputados. Esse é o quantitativo necessário para que o projeto fosse aprovado pela Câmara e seguisse para o Senado Federal. 

Bolsonaro já tinha adiantado, no início do ano, que a Reforma Administrativa não deveria avançar em 2022. De acordo com o presidente, anos eleitorais são difíceis e que “não tem negociação”. 

Ele disse ainda que gostaria que a proposta avançasse, mas que parlamentares não desejam "pagar o preço" para votar temas polêmicos neste ano.

"A gente gostaria que a Reforma Administrativa avançasse, por exemplo, mas eu tenho sete mandatos de deputado federal e nesses anos onde existem as eleições para presidente, para senadores, para deputados também são anos difíceis, não tem negociação", frisou Bolsonaro, em entrevista à Jovem Pan.

Congresso Nacional
Reforma Administrativa está em tramitação no Congresso Nacional
desde 2020 (Foto: Governo Federal)

Ele completou: “o parlamentar no final das contas ele vê aonde é que ele vai pagar um preço com aquele voto, contrário ou favorável a tal proposta. Então, é muito difícil que qualquer proposta siga dentro do parlamento que possa despertar qualquer sentimento junto ao eleitorado brasileiro”.

 

Estabilidade e corte salarial estão em pauta na Reforma

Encaminhada em setembro de 2020 ao Congresso, a Proposta de Emenda Constitucional 32/2020, a PEC da Reforma Administrativa, prevê mudanças para futuros servidores públicos. 

O texto foi aprovado por uma comissão especial da Câmara dos Deputados, em setembro de 2021, mas não foi votado pelo plenário da Casa. 

A versão aprovada pela comissão mantém a estabilidade para todos os servidores, no entanto, com chance de desligamento por desempenho insuficiente do servidor. Há ainda um dispositivo que estipula corte de salário do funcionalismo em até 25%, em situações de crise fiscal. 

O único destaque aprovado pela Comissão Especial da Reforma Administrativa diz respeito à transformação de Guarda Municipal em polícia.

A medida propõe o armamento dos guardas, que passariam a ter as mesmas atribuições de policiais. Hoje em dia, conforme prevê a legislação, os guardas municipais devem estar acompanhados de autoridade policial para exercerem determinadas atribuições.

O próximo passo da tramitação da Reforma Administrativa seria a votação em Plenário na Câmara dos Deputados. São necessários três quintos de votos favoráveis dos deputados para aprovação, isto é, 308, em dois turnos de votação.

 

Em geral, os deputados podem aprovar o texto principal do projeto, mas destacar alguns trechos (os chamados destaques) para votação posterior. Neste ponto do processo também podem ser destacadas emendas, para alterar o texto.

Havendo aprovação da PEC na Câmara dos Deputados, é iniciada a tramitação na segunda Casa Legislativa: o Senado Federal.

Diferenças entre o texto do governo e o aprovado pela Comissão

A  Agência Câmara de Notícias  realizou um comparativo entre o que constava na versão original da Reforma Administrativa, enviada pelo Governo Federal em 2020, e a aprovada pela Comissão Especial. Veja:

ESTABILIDADE

  • Como era: Na PEC, a estabilidade será restrita a servidores ocupantes de cargos típicos de Estado, somente depois do término do vínculo de experiência e de permanecerem por um ano em efetivo exercício com desempenho satisfatório.
  • Como ficou: O substitutivo mantém a estabilidade para todos os servidores concursados. Fica nula apenas a concessão de estabilidade no emprego ou de proteção contra a despedida para empregados de empresas públicas, sociedades de economia mista e das subsidiárias dessas empresas e sociedades por meio de negociação, coletiva ou individual, ou de ato normativo que não seja aplicável aos trabalhadores da iniciativa privada. Este dispositivo já estava na proposta original.

CARGOS

  • Como era: A PEC prevê quatro diferentes categorias de regime jurídico de pessoal, incluindo a de servidores ocupantes de cargos típicos de Estado, os únicos a ter estabilidade e contar com modelo próprio de avaliação. A definição de cada grupo seria por lei complementar.
  • Como ficou: No substitutivo, as únicas diferenças dos cargos exclusivos de Estado são que não podem ter convênios com a iniciativa privada e serão protegidos do corte de despesas de pessoal. O substitutivo já define quais são os cargos exclusivos: os que exerçam atividades finalísticas da segurança pública, manutenção da ordem tributária e financeira, regulação, fiscalização, gestão governamental, elaboração orçamentária, controle, inteligência de Estado, serviço exterior brasileiro, advocacia pública, defensoria pública e atuação institucional do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, incluídas as exercidas pelos oficiais de justiça, e do Ministério Público. Ficaram de fora dos cargos exclusivos as atividades complementares.
  • O substitutivo também permite o desligamento de servidores de cargos considerados obsoletos. Como primeiro critério, serão afastados servidores de acordo com a média do resultado das três últimas avaliações de desempenho. Se houver empate e não for possível discriminar os alcançados por este caminho, apura-se primeiro o tempo de exercício no cargo e em seguida a idade dos servidores. O substitutivo preserva os cargos ocupados por servidores estáveis admitidos até a data de publicação da emenda constitucional.

CONTRATO TEMPORÁRIO

  • Como era: A PEC permite a contratação, mediante processo seletivo simplificado, de pessoal com vínculo por prazo determinado, com recursos próprios de custeio.
  • Como ficou: O substitutivo também permite a contratação temporária, por processo seletivo simplificado, pelo prazo máximo de até dez anos, incluindo eventuais prorrogações. O processo seletivo simplificado só é dispensado em caso de urgência extrema – calamidade, emergência associada à saúde ou à incolumidade pública ou paralisação de atividades essenciais. Neste caso, o prazo máximo de contratação será de até dois anos. Outra diferença é que o substitutivo assegura direitos trabalhistas aos contratados.

JORNADA E REMUNERAÇÃO

  • Como era: A PEC veda redução da jornada de trabalho e remuneração apenas a ocupantes de cargos típicos de Estado.
  • Como ficou: A redução de jornada de trabalho e da remuneração de servidores ficou limitada a 25% e somente poderá ocorrer em períodos de crise fiscal.

CONCURSOS PÚBLICOS

  • Como era: A PEC cria uma segunda etapa para o concurso, na qual o candidato passa por "vínculo de experiência" que vai determinar a classificação final.
  • Como ficou: O substitutivo excluiu o vínculo de experiência. No entanto, o estágio probatório ganhou avaliação de desempenho em ciclos semestrais. O servidor será exonerado se houver duas avaliações insatisfatórias.

 

Fonte: Folha Dirigida

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