Fazer projeções sobre emprego e desemprego no Brasil, neste momento, “é uma aventura”, adverte o professor José Pastore, que há cinco décadas ensina economia na USP e já trabalhou como visitante em universidades como as de Wisconsin, Yale e Califórnia. Aventura por quê? “Há, sim, razões para se apostar na queda do desemprego”, mas qualquer aposta “vira devaneio se vier uma nova onda forte da pandemia”, explica. Sua esperança é que aconteça no Brasil o que já se viu, nos últimos meses, em outros países, onde a Ômicron chegou forte, mas perdeu força pouco depois.
Nesta conversa com Cenários, Pastore critica os ataques do PT e seus aliados à reforma trabalhista e pede com urgência uma reforma administrativa para acabar com “desigualdades que são geradas por lei”. Ressalta que as concessões aprovadas em 2021 trarão obras já contratadas – o G5 é um exemplo disso – e muitos Estados e municípios “estão com a caixa cheia”, dado o ano eleitoral. A seguir, principais momentos da conversa.
Dados novos apontam uma diminuição do desemprego e bons números do Caged. Como o sr. analisa essas boas notícias?
Os dois números – a geração de 2,7 milhões de empregos formais no Caged e a redução do desemprego – surpreenderam até mesmo os analistas. São dados inquestionáveis. Depois da explosão do desemprego com a pandemia em 2020, o quadro agora se mostrou mais promissor.
Como se explica isso?
O Tom Jobim já dizia que o Brasil não é para principiantes. Analisando bem, os 2,7 milhões de empregos formais que o Caged detectou agora são empregos que foram destruídos em 2020.
A propósito, qual foi a taxa de desemprego mais baixa que tivemos, depois da virada do século?
Foi em 2014, um número que hoje é surpreendente – 4,8%, a menor que já tivemos. Dizem que o pleno emprego é quando a taxa está em 5% ou 6%. Então, foi uma taxa melhor do que a do pleno emprego.
O que temos pode ser o começo de uma recuperação?
É uma aventura fazer agora projeções sobre emprego e desemprego. Vamos fazer uma hipótese em que a Ômicron repita o que se viu nos outros países, onde ela subiu e depois perdeu força. Se ela cair no início de março, poderemos ter boas notícias no campo do emprego. Há coisas já contratadas, concessões definidas em 2021. E contratos de concessão têm lá uma cláusula segundo a qual a concessionária tem de ampliar e modernizar a concessão. Por exemplo, o G5, que prevê a instalação de milhares de antenas novas no País: isso gera emprego. E, em segundo lugar, tem o caixa dos Estados e municípios, que está repleto de dinheiro, viu? Eles estão nadando em dinheiro.
É a campanha eleitoral, né?
Sim, estão começando as obras, remodelando escolas, centros de saúde. E, em terceiro lugar, temos o agro que, assim como os minérios, está exportando bem. E, como quarto fator, os programas de transferência de renda. Auxílio Brasil, auxílio-alimentação, voucher-caminhoneiro, isso eleva a renda e aumenta o consumo nas classes de renda mais baixa. O que significa aumentar o emprego.
Pode-se dizer que o sr. está ligeiramente otimista?
Não será nada retumbante, para trazer o desemprego para 6% ou 7%, mas vai ser melhor do que 2021 – se a Ômicron deixar, é claro. Estas projeções vão virar devaneio se vier uma nova onda da covid.
Como vê hoje o debate sobre reforma trabalhista?
Em ano eleitoral, como este, ela já entrou sob protesto. Aí estão o PT e as centrais sindicais propondo sua revogação, dizendo que a reforma não gerou emprego, gerou desemprego. Segundo, que retirou direitos dos trabalhadores. Isso merece um comentário crítico. Porque lei nenhuma cria emprego, se isso fosse possível seria fácil acabar com o desemprego. Você tem é um país que investe, cresce e, dessa forma, gera emprego. O emprego de hoje é o investimento de ontem. E, quanto aos direitos, há 15 deles que os sindicatos podem negociar com as empresas e outros 30 que são inegociáveis, pois estão na Constituição.
Há um forte debate sobre gastos públicos. Como vê a questão?
O problema, dizem os especialistas, é que o prazo de vencimento dos papéis do déficit público é muito curto, coisa que não ocorre nos EUA, no Japão, na Itália. Aí a pressão é maior, e isso traz insegurança ao investidor. E faz muita falta uma reforma administrativa, que inclua uma reforma do Estado. Pois temos muitas desigualdades que são geradas por lei.
O que acha que se pode esperar, a sério, de 2022?
Aos jovens, adultos e aposentados, eu diria que usem as tecnologias modernas, as redes sociais, para cansar os políticos, cobrá-los para que façam o que precisa ser feito. É o que estou fazendo. Todas as semanas, tiro quatro horas só para passar e-mail para os políticos que elegi. Com pressão nas redes, eles ficam preocupados. E você está tocando onde deve ser tocado, o bolso deles.
Fonte: MSN